domingo, 9 de dezembro de 2012

O Silêncio é a Alma da Palavra

O silêncio antecede e forma a palavra.
Quando o silêncio é longo demais, a palavra nasce envelhecida ou morta;
Quando é curto demais, a palavra nasce prematura, informe e disforme.
O silêncio tem que ser do tamanho certo.

Palavras nascidas depois de uma boa gestação no silêncio são
fortes, mas não brutas
espontâneas, mas não canhestras
suaves, mas não passivas
simples, mas não simplórias

Mesmo depois de nascidas,
as palavras ainda devem continuar amigas do silêncio.
Palavra enunciada continuamente é palavra vazia.

Toda palavra, depois de enunciada,
precisa ser relançada ao exílio do silêncio.
Lá as palavras morrem e renascem em outras.
Esse é o ciclo de vida da palavra.

A palavra a que se nega o silêncio deixará ser palavra: 
Se degenerará em ruído.
O silêncio é a alma da palavra.
 
Sostenes Lima
 
Fonte: http://www.sosteneslima.com/2012/11/o-silencio-e-alma-da-palavra.html

sábado, 8 de dezembro de 2012

A Maratona da Vida...

Sempre que vou falar algo sobre o Ano Novo, as palavras travam. 

Eu tenho que esperar um pouco para que as palavras se organizem e, por fim, tomem os trilhos que serão necessários para compor os passos desta jornada. 

A vida é dinâmica e, igualmente, as palavras têm “vida” própria. Como não há um controle absoluto sobre a vida, penso que as palavras também têm a liberdade de ir e vir.
 
Percebo a nossa inabilidade quando queremos pôr numa folha (ou numa tela) em branco os longos trezentos e sessenta e cinco dias que percorremos durante um ano, quando tentamos colocar os pingos nos “is”.
 
Sem querer, podemos até ficar indiferentes a alguns fatos que marcaram a história de cada um. E os caminhos da nossa memória podem nos esconder ou nos fazer esquecer coisas que foram importantes no seu devido tempo.
 
Por isso, hoje prefiro não voltar no tempo. Mas olhar para frente, fitar o horizonte e seguir.
 
Tal qual na maratona é com um pé na frente do outro, no seu devido tempo, que o atleta chega ao final da corrida; na vida, isso também acontece ou deveria acontecer. Devemos viver um dia de cada vez. A nossa vida é feita de momento a momento. E esses momentos podem ser prazerosos ou não. Pois o que vale a pena, o que dá sentido à nossa caminhada é irmos em frente sem nos deixar abater por alguns contratempos, que com certeza irão surgir na estrada.
 
Em um dos Salmos tem um verso que fala um pouco do desejo de todo ser humano: Viver! “Oh! Ensina-nos a aproveitar a vida! Ensina-nos a viver bem e sabiamente!” 
  
Que o desejo de viver, possa nos levar por caminhos plenos de amizades verdadeiras, atitudes dignas de acolhimento, sorrisos singelos e compartilhados, palavras encorajadoras, mãos que mutuamente se apoiam, abraços que falam mais que palavras.
 
Esta é a maratona da vida, na qual todos nós somos convidados a participar. Cada um vivendo no seu ritmo de felicidade. Aproveitando e compartilhando a descoberta do belo que há à nossa volta.                                       

Lembremos que tudo isso é real quando começarmos a dar valor às coisas simples da vida.
 
Que o encanto pela vida não se ausente de nós, e que os nossos sorrisos não percam o brilho e a doçura nos caminhos que irão se desenhando à nossa frente... 


Por Leny Brito

*Sl. 90.12 – Versão A Mensagem

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Rio nos meus olhos...

Há um rio silencioso nos meus olhos
A nascente surgiu entre as pedras 
A noite é fria 
As comportas não são tão fortes 
Como parecem ser

Há um grito silencioso na caverna
Abafado por lábios fracos
Que ecoa na varanda de uma alma inquieta
Que anseia por ouvidos solícitos

Há uma luz escondida nas trevas
Uma força refugiada na fraqueza
Um acerto lutando contra o erro
O perfeito sendo esmigalhado pela humildade

Há vida
Há lutas
Há desafios
Há esperança
Ah! A vida e seus caminhos de curvas...

Por: Ana Cristina - Simplesmente Tinhinha 

Fonte: http://enkaraverdade.blogspot.com.br

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Janelas...

Nada mais íntimo, nada mais confidencial do que uma janela aberta. E ela, bem sabia disso. 

Por isso, quando ouviu um chamado na sua janela, ela foi discreta. De relance ela olhou pela fresta: "Seria esse o tão esperado momento da sua vida?"

Qual a sua surpresa ao vê que do outro lado da rua, em uma janela aberta um moço sorridente e gentil a esperava. Acenou para ela. Ela retribuiu com um sorriso.

E aos poucos ela foi abrindo a janela...

Havia uma mágica no ar a cada momento em que as janelas se abriam. A imaginação corria solta. E ela se deixou envolver por esses doces momentos que pareciam tão reais, de tão desejados que eram pelos dois.

Havia um ritual que os unia. Quase sempre ele chegava à janela primeiro. Enquanto isso, ela se embelezava, se perfumava... quem sabe o aroma não envolveria o seu amado? rsrs

Era impossível  eles conterem o sorriso que fluia levemente a cada encontro. Como eles se faziam bem...

E aí, eles conversavam, sonhavam, cantavam versos de amor, de saudades...

Tudo parecia correr bem. Até o momento em que ela mostrou a sua humanidade imperfeita. Quando uma palavra impensada pôs em risco tudo o que eles haviam construído, até então. 

Ela não entendia a razão que o fez ficar tão arredio e indiferente. Isso, porque antes eles já haviam passado por algumas correntezas e decidiram navegar juntos... continuar.

Ela sempre fora fiel ao seu amor, falava o que estava na alma. pediu-lhe perdão. Entretanto, ele parecia longe, distante à tudo o que eles viveram. Simplesmente, mostrou sua indiferença e desapego ao que antes, ele dizia ser tão sublime. 

Mesmo assim, as janelas insistiam em se abrir mesmo que de uma forma contida. 

Só que aquela indiferença roubou o interesse. Os desejos, os sonhos já não tinham mais o mesmo vigor, o mesmo brilho.

Como os sorrisos ficaram escassos na outra janela, e o descuido dele em não manter a janela aberta, ela sentiu o seu sorriso fugindo.

Não havia sentido continuar...


E com pesar na alma, o coração apertado, aos poucos ela decidiu tomar uma decisão: Fechar a janela.

Decisão justa, pois isto parecia ser a melhor atitude a ser tomada.

Ela trancou a sua janela. E então, a sua alma sensível se envolveu no aconchego e no silêncio das suas lembranças...

(...)


(Por algum motivo foi rabiscado no dia 20 de novembro de 2012)

Leny Brito



sábado, 17 de novembro de 2012

A Colina

Fim de tarde, ela veste o seu melhor vestido, calça os sapatos e põe aquele casaco surrado.  

Está decidida a subir a colina.

Não é do seu feitio ficar enclausurada entre as quatro paredes de um quarto,
enquanto lá fora a vida continua a sua mais linda encenação. 

Então começa a sua caminhada, passos largos, ligeiros
Coração bate compassadamente,

Ao longo da subida ela percebe seu rosto gelando
A respiração começa a ficar ofegante... os passos começam a pesar
Ela até pensa em voltar...

"Que motivos poderiam existir para que valesse a pena toda aquela subida?" Ela sussurra à sua alma. 

De repente, ela sente um ardor no coração. E dele brota uma ardente esperança.

E no embalo da canção entoada pelo rouxinol, a sua alma ganha fôlego

Sua respiração fica leve ao se envolver com a beleza ao seu redor.
Seus olhos se encantam com as flores que vão surgindo na trilha
E o cheiro do mato molhado começa a encher-lhe os  pulmões.

Tudo à sua volta é tão contagiante...  tão envolvente... 
que ela nem percebe que a subida chegara ao fim.

E lá de cima ela tem a mais bela visão que a vida poderia lhe dar, 
E num gesto de contrição ela se senta na grama verde,

Agora, ela não precisa mais da proteção do casaco, e o coloca ao lado.

"A vida, o tempo, poderiam parar naquele momento", pensa consigo

E, sorrateiramente, ela sente o vento deslizar sobre a sua pele...

Diante de tão grande encanto, seu olhar sorriu silenciosamente

(...)

Leny Brito

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Carta por acaso encontrada entre os muitos rascunhos e desenhos deixados pelo Poeta do Fragmento numa gaveta de sua escrivaninha e que ele nunca chegou a enviar ao seu destino


A poeira pousada sobre a foto de nós dois naquele tempo, no antigo tempo. Ainda somos nós nesta foto? Tenho o bom pressentimento que sim. Seu ar de formas tranquilas, seu jeito de olhar que me envolvia em ternuras, carinhos e requintes, ainda que sem toques nem beijos – uma das virtudes das crianças é gostar sem precisar abraçar nem beijar. Porém agora, enquanto, na foto, é uma menina que ensaia, silenciosa uma flor, mas que não sabe que flor. Flores colhidas murcham junto ao peito, flores ensaiadas não. És uma flor sempre ensaiada. 

O desejo que tenho agora é saber se sente saudades. Eu, como não! Quando desta foto não sabíamos de muito, quase nada de tudo, tínhamos intuições pueris sobre as coisas. Qualquer uma coisa que desse errado nos parecia ser de reversível manuseio, uma, duas, tantas vezes quanto precisasse até sermos felizes. O Tempo não era sempre o Tempo. Entre a fumaça da palha e a neblina de uma qualquer tarde de junho tínhamos os vagos campos para percorrer com os olhos. Tínhamos o pasmo essencial para a eterna novidade do mundo de que escreveu o poeta.
Entorpeço agora em atmosfera pronta para que nada se diga e tudo se anuncie, na memória, no íntimo, na saudade, como vejo em hoje, em íntima lembrança, e vejo e ouço entre os volteios do violino do primoroso polonês Chopin, que tanto significa para mim.

É difícil de encontrar resposta para saber da saudade tua; se sentes. Sei da minha, e nesse caso é cruel a maioridade da consciência do tempo e da saudade, e sem encanto algum agora, talvez alhures. O mais que tenho é um remorso mal qualificado como nostalgia. Sorriso fraco em presença daquilo que sequer consigo ver nitidamente; as imagens que guardo daquele tempo, que esvaece cada vez mais e demais quando tento interpretar a foto que de nós dois tenho à mão.

Da paisagem pura que compunha a paisagem ao fundo, especificamente esta do final de junho com fumaça e neblina, vai se apagando primeiro o que é mais vulnerável, as casas pareando-se no caminho, depois o caminho, depois as formações dos eucaliptos, depois a composição dos ares, enquanto vão resistindo outras; o “corguinho” enganosamente límpido e cristalino, a várzea que expandia o horizonte tornando-o comprido ao infinito, a poeira do chão poroso da estrada, os lilases e os lírios intrusos nos pastos.

A tarde de agora enquanto lembra em muito a da foto, possui diferenças básicas; agora é maio, estou piorado e velho, me esforço por lembrar, me perco em dúvidas sem saber do que sentir e se devo sentir à medida do que talvez você sinta. Tem ainda outras duas diferenças, uma, um tímido róseo crepúsculo entre um horizonte irregular de prédios, a outra, o asfalto que oculta e dissolve os planos da memória.

Entre a fumaça da palha e a neblina de uma qualquer tarde de junho, na foto que de nós dois tenho à mão vem-me uma saudade completa, pronta, e sua ausência está comigo.

Seu Poeta do Fragmento
Fonte: herdeirosdodeserto.blogspot.com.br do meu amigo, Alex Carrari