sábado, 26 de dezembro de 2009

Alegria é...

Ricardo Gondim

Desarticulado, mal conseguiria descrever o que é alegria. Talvez se pareça com uma leve coceira na alma, que dá vontade de rir. Quem sabe seja o que transforma o coração em jardim onde borboletas brincam. Alegria suscita, sim, uma ansiedade deliciosa. Quando estou feliz, surpreendo-me sussurrando: “Não preciso de mais nada”.

Alegria é granada que explode no peito com estilhaços que ferem sem magoar.

Alegria é bomba que irriga a pele com arrepios de satisfação.
Alegria é rede branca estendida no alpendre, que contempla as montanhas.
Alegria é cafezinho no balcão da padaria.
Alegria é som da taça robusta que brinda o encontro, olho no olho.
Alegria é sorriso agradecido do neto que acabou de ganhar o primeiro estilingue.
Alegria é tempero que se espalha pela casa.
Alegria é música que lembra o amor adolescente.
Alegria é estrela cadente que risca o céu, e convida a fazer um pedido.
Alegria é exame de laboratório dizendo que não é preciso alongar o tratamento.
Alegria é livro relido depois de dez anos.
Alegria é elogio do pai.
Alegria é crepúsculo que colore o céu de um Apocalipse deslumbrante.
Alegria é fúria do mar contra as rochas.
Alegria é colibri que se aproxima e foge num piscar de olhos.
Alegria é feriado chuvoso para ler poesia em voz alta.
Alegria é lágrima de amor.
Alegria é tapioca com manteiga em dia frio.
Alegria é silêncio na catedral vazia, que acolhe a meditação.

Alegria custa tão pouco, meu Deus!

Soli Deo Gloria.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Jesus - Deus presente


“... e lhe chamarão Emanuel, que significa Deus conosco” (Mateus 1.23b)

Mais um natal está chegando. Para muitos é um momento de festas e alegrias, enquanto que para outros é tedioso, triste. Mas por que esse paradoxo em relação ao natal, celebração do nascimento de Jesus? Gostaria de refletir com você sobre a importância do fato de que Jesus nasceu, e de que ele é Deus conosco!

A partir do momento em que descobrirmos o porque de celebrarmos o natal, entenderemos porque Mateus relembra a fala do profeta Isaías: Que Jesus é Deus presente – conosco.

É Deus presente na realidade da vida. Que além de celebrar os momentos alegres da vida, com seus filhos, também é um Deus que chora com a mãe que perde o filho para a violência do crime, das drogas. Que sofre junto com a família ao saber do diagnóstico da doença de um ente querido. Que a cada dia, está presente com os pais de uma criança especial, dando-lhes forças pra continuarem lutando até o fim. Que está presente e que dá esperança, na hora em que laços de amizades são rompidos. Que sofre com um pai que batalha por emprego, para poder sustentar seus filhos. E que mostra seu amor na simplicidade do sorriso de uma criança...

Vamos perceber que foi para se fazer presente no nosso cotidiano que ele nasceu. Para nos dá ânimo em meio às aflições, e alegrias pra celebrar diante do melhor que a vida nos oferece.

Entendo que somente com essa visão de Deus presente, em Jesus, as pessoas terão uma nova forma de compreender o sentido do natal. Portanto, se trocarmos presentes nesse período eles possam ter um valor maior, que transcende o material. Que os nossos presentes possam está vestidos de gratidão, de amor, de reconhecimento, de envolvimento com o outro, de perdão, de alegria, de sorrisos e abraços fraternos. Com essas atitudes, seremos coerentes com o presente de Deus para nós, que é a sua amável presença em nossas vidas.

Um feliz natal, cheio de vida e alegria em Cristo.

Leny Brito


domingo, 22 de novembro de 2009

Jeito de ser

Todos os dias, queiramos ou não, estamos em processo de mudanças. Se percebermos bem, veremos que a nossa forma de "enxergar" uma postura tomada ontem, terá uma nova realidade hoje. Mas porque isso acontece? Acredito ser, também, por causa da nossa instabilidade diante da vida. Instabilidade, no sentido de não termos o controle dos caminhos que fazem o nosso mundo girar. Essa instabilidade é boa, pois ela nos faz crescer como gente.
Para que possamos tirar boas lições da vida e aplicá-las no nosso jeito de ser, e sermos felizes, teremos sem sombras de dúvidas, vivermos o jeito que Jesus ensinou ser possível viver.
Lendo o livro "Repintando a Igreja" de Rob Bell, ele diz que o jeito de Jesus é o melhor meio possível de vida. Gostaria de compartilhar alguma coisa que ele fala sobre viver a vida (p 21)
"Estou convecido de que ser generoso é uma maneira melhor de viver. Estou convencido de que perdoar as pessoas e não carregar amargura é uma maneira melhor de viver. Estou convencido de que ter compaixão é uma maneira melhor de viver. Estou convencido de que procurar a paz em todas as situações é uma maneira melhor de viver. Estou convencido de que dar ouvidos à sabedoria de alguém é uma maneira melhor de viver. Estou convencido de que ser honesto com as pessoas é uma maneira melhor de viver."
É, o mestre nos ensinou... só precisamos de coragem para seguí-lo.



terça-feira, 22 de setembro de 2009

Saber Viver

Não sei... Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura... Enquanto durar
(Cora Coralina)

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A Verdade


A porta da verdade estava aberta,
Mas só deixava passar
Meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
Porque a meia pessoa que entrava
Só trazia o perfil de meia verdade,
E a sua segunda metade
Voltava igualmente com meios perfis
E os meios perfis não coincidiam verdade...
Arrebentaram a porta.
Derrubaram a porta,
Chegaram ao lugar luminoso
Onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
Diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual
a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela
E carecia optar.
Cada um optou conforme
Seu capricho,
sua ilusão,
sua miopia.

(Carlos Drummond de Andrade)

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Amor Incondicional



Por que nós aprendemos e repetimos que, para sermos aceitos por Deus, nós temos que ser perfeitos? Pelas Escrituras, percebemos que Deus não requer essa perfeição dos seus filhos, para que sejam amados por Ele.

O que percebemos através da história humana, é que nós desenvolvemos uma visão assustadora de Deus, como um "deus" punitivo e castigador. No meu entender, acho que Jesus veio à terra para nos revelar o verdadeiro rosto de Deus! E através das suas atitudes, mostrar que é possível sermos amados por Deus, independente do que somos em nossa fragilidade humana.

Quando em Lucas 15.11-32, Jesus conta sobre o Pai que perdoa, ama e acolhe seus filhos; Ele está falando do amor incondicional que Deus tem por cada um. Enquanto que um dos filhos o abandona, o outro, mesmo ficando em casa não soube usufruir da graça de pertencer ao seu lar.

O que Jesus quer que percebamos é que, o Pai cuida de cada filho seu de uma forma única. O que volta cheio de culpa, Ele perdoa e dá vida, dá alegria. E para o filho que ficou “ausente” em sua casa, o Pai o acolhe e o convida também, para participar da alegria que é viver ao seu lado.

Podemos ver que a reação do Pai não é de castigar ou de apontar culpados, mas de estender o seu amor. Tem uma frase que sempre que lembro do amor de Deus, ela faz mais sentido pra mim. “Não há nada que você possa fazer para Deus te amar mais; e não há nada que você possa fazer para Deus te amar menos” (Philip Yancei)

Leny Brito

quarta-feira, 15 de julho de 2009

De Vinhos e Vida...


Em joão 2.1-11, nós lemos que Jesus foi convidado para uma festa de casamento. O texto nos leva a entender que o vinho se acaba antes do planejado, pois Maria, mãe de Jesus, se preocupa a tal ponto que vai informá-lo que não tem mais vinho. Como a festa continuaria se o vinho, que alegrava os convidados estava acabando? E Jesus como um bom judeu, também gostava de celebrações, realiza o seu primeiro milagre, dando início ao seu ministério e proporcionando a continuação da festa. Ele transforma água em vinho! E quando o mestre de cerimônias prova o vinho, e qual a sua surpresa - é o melhor vinho da festa! Por isso, a sua admiração e indignação por ele está sendo servido no final.
Relendo esse texto, percebi uma relação entre as nossas atitudes diante da vida, com os dois tipos de vinho que são servidos.
O primeiro tem qualidade inferior, mostrando que podemos continuar a viver nossas vidas sem muito entusiasmo. Sabe, aquela postura de "deixar a vida me levar"? Sem compromisso, sem levar muito em conta as rotinas tão necessárias à nossa existência. Será que essa atitude descompromissada não parte do nosso medo de encarar a vida, e de dá um passo à frente, na busca da nossa humanidade? Mas, sabemos que o ser humano é propenso a acomodar-se ao que não exige esforço, mudança. Pois o "conhecido" é uma zona de conforto para muitos, sem falar que é mais seguro...
O segundo vinho,cuja qualidade é superior, vejo como um novo estilo de vida oferecido ao ser humano, por um rabino que não se acomodou ao que já estava "estabelecido". Ele transforma valores antigos e opressores em valores que libertam o coração e a mente daqueles que escolhem caminhar com Ele. Ou seja, a transformação do velho para o novo, de algo que não tinha sentido para uma nova realidade pela qual valha à pena viver. O vinho que é servido por último, vem como uma salvação para que o melhor não acabe, que é a alegria de celebrar a vida!
É interessante percebermos que nesse novo estilo de vida, mesmo que as rotinas continuem elas tomam sentido; porque agora são vistas por um novo olhar, um olhar que foi transformado. Estou lembrando do convite que Jesus de Nazaré fez um dia: "Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim que sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as vossas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve." (Mt.11.28-30)

Leny Brito

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Reino de Deus e Danoninho...


No último final de semana, eu estava pensando qual a mensagem que iria refletir com a igreja. E, essa mensagem foi inspirada de uma maneira nada convencional, para se "trabalhar" um texto bíblico - eu estava na manicure! (rsrs... )
Mas, o mais importante é que a fonte da minha inspiração foi a Anne, uma garotinha de pouco mais de um ano de idade, neta da manicure. Isso mesmo! E isso, aconteceu quando ela foi tomar o seu danoninho. Ela batia palminhas a cada colherada, tamanha a sua alegria! (rsrs..) Não pude me conter e falei, que o reino de Deus é assim: de alegria, de contentamento. E que foi o próprio Jesus quem disse, que temos que nos tornar como crianças para que possamos entrar no reino de Deus! Depois pensei comigo: "É isso que será ministrado no domingo!" E assim.... foi... rsrs
Em Lucas 18.15-18, nós lemos que as pessoas traziam as crianças para serem abençoadas por Jesus. Só que os discípulos queriam impedir. Porém Jesus os surpreende, quando afirma que quem quisesse entrar no reino de Deus teria que se tornar como uma criança!
Mas, o que é o Reino de Deus? Em um dos seus textos, Ed René fala o seguinte: "Para a maioria das pessoas, o reino de Deus é uma parte da realidade onde são respeitados os dogmas, observados os códigos morais e praticados os rituais da religião cristão. Acreditam que para participar do reino de Deus, é necesário esta´de acordo com um conjunto de verdades objetivas: doutrinas e dogmas. Para estes, buscar o reino de Deus em primeiro lugar significa afastar-se das atividades mundanas e envolver-se nas atividades religiosas."
Ao colocar a criança, como modelo a ser vivido para que possamos receber o seu reino, Jesus quer que entendamos que seu reino é de vida, de alegria, contentamento! Atitudes que jamais serão expressas pela religiosidade.
O reino de Deus é oferecido ao homem de forma espontânea, com alegria - Temos que ter a atitude de criança, quanto ao seu encantamento pela vida. A criança vive cada momento. Logo, se quisermos entrar no reino de Deus, temos que aprender a viver o novo de Deus, da vida a cada dia; e isso, é um processo crescente. A criança não se contenta a uma brincadeira somente, ela quer aprender mais e mais, passar para a próxima etapa. Ela não se preocupa com o que virá à sua frente. Ela, simplesmente, se alegrará com o presente seguinte, e vive. Acredito que quando Jesus coloca a criança como espelho, para caminharmos na direção do seu reino, Ele está indicando que esse caminho deve ser prazeroso, e que devemos celebrar as realidades que surgem à nossa volta. Não devemos ter medo de descobrir novos horizontes, tomar novas posturas, repensar o que cremos. Pois, assim como um criança se alegra e cresce a cada descoberta; da mesma forma, Deus tem prazer em que seus filhos cresçam a cada dia.
O reino de Deus transmite vida ao homem - Sabemos que uma das qualidades da criança é esbanjar as suas energias, e isso é a vida que flui dela. Ela está viva, e suas atitudes envolvem, atraem quem passa por perto. Ela tem uma sensibilidade aguçada, e quer usufruir e aproveitar cada passo dado. Na sua relação com Deus, o homem se torna refém da sua religiosidade: o ser humano se envolve tanto na sua obrigação de cumprir a lei, de fazer tudo certo - não pode errar um passo - a tal ponto, que ele se esquece de que é humano! Perdendo, assim, a sua sensibilidade diante da vida. E Jesus vem para resgatar o homem. Trazendo vida, trazendo o reino de Deus ao coração do homem. Quantas e quantas vezes, Jesus alertou para esse perigo, quando ele mostrava que atitudes de amor, de compaixao são mais agradáveis a Deus do que guardar o sábado ou cumprir rituais religiosos. Pois, são nessas atitudes, com o toque de sensibilidade, que o reino de Deus é vivido e experimentado no coração de cada filho seu!
Que possamos deixar que a criança que existe em cada um de nós, possa renascer todos os dias. E, numa atitude de reverência à vida, possamos bater palmas diante de cada descoberta da grandeza e da simplicidade do reino de Deus; como uma criança que degusta um saboroso danoninho!
Leny Brito

segunda-feira, 11 de maio de 2009

De Sabores e Vida...


Ultimamente, estou empolgada com algumas descobertas que me motivam na caminhada! É bom sentir o prazer da descoberta de algo que estava tão perto, e que por alguma razão não havia percebido, antes.
A cada passo percebo que as descobertas têm sabores! Sabores de vida! Então é preciso avançar, seguir em frente, se deliciar!
A vida é como uma mesa de um banquete, onde são servidos uma diversidade de pratos, com seus sabores e aromas. A mesa está posta, e cada convidado é chamado a se servir conforme o seu paladar. E, nessa caminhada vejo que os convidados desse banquete, estão em dois lados opostos.
De um lado, estão os que têm paladares mais aguçados, e estão sempre dispostos a reinventar e provar o desconhecido. São "afoitos" e por isso, se deliciam dos mais variados sabores. Estão abertos a aceitar e degustar sabores inimagináveis. Sabem aproveitar a festa!
Do outro lado existem os mais comedidos, são detalhistas, certinhos demais; portanto não conseguem sair da "etiqueta". Se acomodaram, e não conseguem degustar as diversas possibilidade de sabores à sua volta. É como se existisse uma "viseira" palatina. Têm a convicção do sabor "puro", herança da tradição familiar. Então, pra que "macular" o sabor com novas invenções? Estão na festa, mas não sabem aproveitá-la.
É assim que percebo a vida. Com inúmeras possibilidades de escolhas a serem vivenciadas. Claro, que como os sabores, também iremos nos deparar com surpresas desagradáveis. Mas, a caminhada é que faz valer à pena. Lembro da frase do poeta Fernando Pessoa "Tudo vale a pena, se a alma não é pequena".
E o que me faz viver com intensidade é a expectativa de cada descoberta. Cada pensamento novo, novo no sentido de ser percebido por mim. A minha sensação é como se eu tivesse"tateado" e "tocado' algo tão real, que estava lá e eu não compreendia.
Me vejo como uma convidada da festa, que decide sair do lado onde o sabor é conhecido, para se aventurar na descoberta dos mais variados sabores, que o dono da festa, Jesus de Nazaré, coloca à minha disposição.
Lembro que um dia Ele falou: "Eu vim para que vocês tenham vida, e vida em abundância."
Nele, que caminha e compartilha conosco todos os sabores... rsrs

Leny Brito

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Meia Verdade

Achei linda, a letra dessa canção do pr Márcio Cardoso.
Com certeza, vale a pena repassar.

"Toda palavra que diz sobre Deus
Não fala tudo o que quer dizer
Tanta verdade que pensa Deus
É meia-verdade, sempre aquém...

Todos os versos de uma canção
Não saberão dizer seu Nome
Muita ciência não vai definir
O Deus que está pra além de deus

O meu silêncio é minha fé
Em um Ser livre e indomável
Feito pássaro selvagem
Que voa, voa...
Minha oração é minha fé
Que insiste crer que do outro lado
Existe Alguém que me ouve
Ouve, ouve...
E está além das palavras
Para além de um outro lado
Por escolha amorosa
Está dentro de mim!

Com reverência se diz seu Nome
Como quem sabe frágil o saber
E pela graça vai com alegria
Diante dele e o chama de Pai."


Márcio Cardoso

(20/10/09)

sábado, 28 de março de 2009

A oração de uma palavra só

Pr Ed René Kivitz

As pessoas que convivem comigo dificilmente me descreveriam como um homem de oração. Mas peço licença a Paulo, apóstolo, para usar suas palavras em minha defesa –“Ninguém me considere insensato! Ou então suportai-me como insensato, a fim de que também eu me possa gloriar um pouco. O que vou dizer, não o direi conforme o Senhor, mas como insensato, certo que estou de ter motivo de me gloriar”.
Sou um daqueles denunciados por William James, que ora simplesmente porque não consegue evitar a oração. Minha vida de oração não se explica por outra razão senão o mais profundo desespero. Durante muito tempo carreguei a culpa de orar por razões diversas – a busca da santidade, o amor ao Senhor (o famoso e piedoso “buscar a Deus por quem Deus é”) ou mesmo aquela intercessão generosa, solidária e compassiva. Mas encontrei consolo nas palavras de Thomas Merton: “A oração é uma expressão de quem somos”.
A oração nunca me fez sentido. Para falar a verdade, ainda não faz. Também não consigo compreender a mecânica ou dinâmica processual da oração. Jamais consegui me ajoelhar aos pés de um deus deliberativo, que recebe as petições e súplicas das mãos do “anjo protocolador” e as despacha à luz de critérios misteriosos. Não consigo imaginar um deus pensando se responde ou não à súplica de uma mãe no corredor do hospital ou considerando se atende ou não ao clamor de uma comunidade que pede chuva.
Alguém deve imaginar que Deus ouve as orações, avalia a questão e depois dá ordens aos seus anjos conforme sua perfeita vontade: “Gabriel, faça com que aquele advogado desista da compra do apartamento, pois decidi que vou deixar que o casal que orou esta manhã feche o negócio”; ou “Miguel, dê um jeito de aquele menino esquecer o agasalho e ter que voltar para buscar, porque a mãe dele está orando e eu vou poupá-lo do acidente que está para acontecer na esquina da escola”. Se o leitor acredita que as coisas de fato acontecem desta maneira, nada contra. Não tenho qualquer argumento para afirmar que Deus não faça ou não possa atender orações desse tipo. Respeito seu ponto de vista, até porque não duvido que você tenha inúmeras histórias de orações cujas respostas de Deus o levam a acreditar que as coisas funcionam assim mesmo.
Quando comecei a pensar nessas coisas, minha experiência de oração mudou muito, e para melhor. Tudo começou quando Jesus me ensinou a invocar a Deus usando a expressão Abba. Os historiadores, Joachim Jeremias por exemplo, afirmam que abba era a palavra do dialeto siro-ocidental aramaico que uma criança usava para se referir ao seu pai. O Talmud, comentário rabínico da Torah, diz que “quando uma criança saboreia o trigo, aprende a dizer abba e imma”, querendo dizer que “papai” e “mamãe” são as primeiras palavras de um pequeno recém-desmamado que está aprendendo a falar. Na verdade, a melhor tradução para abba seria “papa” ou mesmo “pa”, algo como o mero balbuciar, assim como para imma, seria “mama” ou simplesmente “ma”.
O fato é que abba era um termo infantil, anterior à construção conceitual, despido de significados culturais, ainda não elaborados na mente, mas perfeitamente compreensível ao coração. A criança que pronuncia abba ou imma não detém qualquer conceito de pai ou mãe, não sabe o significado de expressões como pessoa, identidade, individualidade. Ignora o que é família, casal, irmão, irmã – quanto mais conceitos abstratos como sociedade ou comunidade. Tudo quanto uma criança que pronuncia abba sabe é que existe apenas um a quem se refere assim. Diante de muitos braços estendidos em sua direção, a criança identifica quem são seu abba e sua imma. É como se, intuitivamente, pensasse assim: “Esse é meu abba, essa é minha imma; posso ir no seu colo ou lançar-me em seus braços. Ali estou suprida e segura”.
Joachim Jeremias relata que Jesus se dirigia a Deus “como uma criancinha fala a seu pai, com mesma simplicidade íntima, o mesmo abandono confiante”. Jeremias considerou este Abba “ipsissima vox de Jesus”, isto é, maneira própria e original de falar do Filho de Deus. Os apóstolos assim compreenderam, e Paulo vai dizer mais tarde que o clamor Abba é ipsissima vox dos filhos de Deus, adotados na comunhão do Espírito Santo.
Muito provavelmente, Abba é a palavra com que Jesus invoca Deus Pai quando do seu brado final e triunfante do alto da cruz: “Abba, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. Logo, a expressão da mais absoluta confiança está presente no momento da mais profunda solidão e senso de abandono e desamparo. Eis a fé, como disse Martin Buber, como “adesão a Deus”. Não a uma imagem de Deus, um conceito, uma idéia do divino. Mas uma adesão a Deus, uma adesão que transcende imagens, conceitos, idéias e também sensações e percepções. A fé como adesão a Deus tal qual a adesão de uma criança desmamada no colo de sua mãe: além, ou aquém, da consciência racional, que decodifica e disseca o Senhor como um cadáver sobre a mesa da academia.
Mas, ao mesmo tempo, trata-se de fé como adesão adulta, madura, capaz de transitar além, ou aquém, das sensações e percepções, ciente tão somente de que Deus está, Deus é, e que seus braços acolhem. A oração de uma palavra só, Abba, é pronunciada na mais tenra infância e na mais extrema maturidade. Entre os dois momentos da pronúncia do Abba está a prepotência de quem acredita compreender e manipular o Deus “que habita em luz inacessível”.
Diante do Abba, a oração deixa de ser um arrazoado inteligente, ou uma ladainha de murmurações e súplicas que serão depois catalogadas em colunas de “respondidas na data tal”. Diante do Abba, a oração é mais parecida com um suspiro, um gemido profundo, ou uma efusão de lágrimas; também é semelhante a um salto de alegria incontida, um literal derramar do coração. O Abba é aquele que transcende nossos dogmas, nossos sentidos e nossas manipulações. Mas é aquele que compreende e acolhe o que não dizemos pela simples razão de não sabermos o que dizer, ou como dizer. É aquele que recebe o peso dos nossos corações simultaneamente depositados aos pés da cruz e entregues em suas amorosas mãos, devolvendo ao aflito “a paz que excede a todo o entendimento”.
Caso lhe seja possível compreender a oração com um estar diante daquele a respeito de quem pouco ou quase nada sabemos, exceto que é nosso Abba; se a oração é para você expressar diante dele o que lhe pesa no coração, através de gemidos profundos e um singelo balbuciar Abba, num salto de fé que transporta para além das sensações, percepções e conceitos; ou caso considere que um simples suspiro balbuciando Abba implica a mais profunda e legítima oração, então não apenas você vai orar mais, muito mais, como também – e principalmente – nunca mais será a mesma pessoa.

P.S. Encontrei esse texto no blog Poimenia.

domingo, 22 de março de 2009

O Reino de Deus, Hoje


Meditando sobre o Reino de Deus estabelecido no meio dos homens, através de Jesus de Nazaré. Percebemos que esse Reino não foi abolido com a sua morte; como muitos da época esperavam que acontecesse. Claro que o pensamento deles só poderia ser tão pequeno, eles não conseguiam perceber a grandiosidade na qual esse Reino era formado! Era o próprio Deus querendo habitar no coração humano e, assim, Criador e criatura caminhando juntos em um relacionamento de cumplicidade e amizade.
Acredito, mesmo diante de uma realidade tão cruel e desumana, que o Reino de Deus se faz presente quando deixamos o nosso egoísmo e começamos a compartilhar a vida com o nosso próximo, tendo sempre o Reino como o alvo maior.
Parafraseando o apóstolo Paulo, em Colossenses 3.17, São João da Cruz (um frei espanhol, poeta e teólogo) nos fala de forma simples como podemos viver o Reino de Deus , no nosso cotidiano: "Em todas as coisas, grandes ou pequenas, permita que Deus seja o alvo."
E, conscientes do que o Seu Reino representa, podemos fazer a parte que nos cabe, que é a de acender a chama em nossos corações e deixar que ela contagie quem está por perto. E assim, em grandes ou pequenos gestos, o Reino de Deus vai ultrapassando os nossos limites.

Leny Brito

quinta-feira, 12 de março de 2009

Amizade Que Gera Felicidade

Estava a pensar sobre a amizade, não essa amizade de "faz de conta" na qual finjo que estou te ouvindo, e você a mim... Mas aquela que se doa, que embeleza, que escuta, que chora, que sorrir, que consola, que gasta o tempo... tempo? Lembrei que essa amizade é atemporal, o tempo não é obstáculo ou limite para que ela a cada dia siga o seu curso. É feliz quem encontra uma amizade assim.

Antoine de Saint-Exupèry, na sua obra clássica "O Pequeno Príncipe", fala de forma clara e poética como nasce essa amizade entre as pessoas. Isso, ele nos mostra no diálogo que acontece entre a raposa e o príncipe:

"E foi então que apareceu a raposa:
__Bom dia,disse a raposa.
__Bom dia,respondeu polidamente o principezinho,que se voltou,mas não viu nada.
Eu estou aqui,disse a voz,debaixo da macieira...
__Quem és tu?perguntou o principezinho.Tu és bem bonita...
__Sou uma raposa,disse a raposa.
__Vem brincar comigo,propôs o principezinho.Estou tão triste...
__Eu não posso brincar contigo,disse a raposa.Não me cativaram ainda.
__Ah!desculpa,disse o principezinho.Após uma reflexão,acrescentou:
__Que quer dizer "cativar"?
__Tu não és daqui,disse a raposa.Que procuras?
__Procuro os homens,disse o principezinho.Que quer dizer "cativar"?
__Os homens,disse a raposa,têm fuzis e caçam.É bemincômodo!Criam galinhas também.
É a única coisa interessante que eles fazem.Tu procuras galinhas?
__Não,disse o principezinho.Eu procuro amigos.Que quer dizer "cativar"?
__É uma coisa muito esquecida,disse a raposa.Significa "criar laços...".
__Criar laços?
__Exatamente,disse a raposa.Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual
a cem mil outros garotos.E eu não tenho necessidade de ti.E tu não tens necessidade de mim.
Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas.
Mas se tu me cativas,nós teremos necessidade um do outro.Serás para mim único no mundo.
E eu serei para ti única no mundo...
__Começo a compreender,disse o principezinho...Existe uma flor...eu creio que ela me cativou...
__É possível,disse a raposa.Vê-se tanta coisa na Terra...
__Oh!não foi na Terra,disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
__Num outro planeta?
__Sim.
__Há caçadores nesse planeta?
__Não.
__Que bom.E galinhas?
__Também não.
__Nada é perfeito,suspirou a raposa.
Mas a raposa voltou à sua idéia:
__Minha vida é monótona.Eu caço galinhas e os homens me caçam.Todas as galinhas se parecem
e todos os homens se parecem também.E por isso me aborreço um pouco.Mas se tu me cativas,
minha vida será como que cheia de sol.Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros.
Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.O teu me chamará para fora da toca,como se fosse música.
E depois,olha!Vês lá longe,os campos de trigo?Eu não como pão.O trigo para mim é inútil.Os campos de
trigo não me lembram coisa alguma.E isso é triste!Mas tu tens cabelos cor de ouro.Então será maravilhoso
quando me tiveres cativado.O trigo,que é dourado,fará lembrar-me de ti.E eu amarei o barulho do vento no trigo...
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
__Por favor...cativa-me!disse ela.
__Bem quisera,disse o principezinho,mas eu não tenho muito tempo.Tenho amigos a descobrir e muitas coisas
a conhecer.
__A gente só conhece bem as coisas que cativou,disse a raposa.Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa
alguma.Compram tudo prontinho nas lojas.Mas como não existem lojas de amigos,os homens não têm mais
amigos.Se tu queres um amigo,cativa-me!
__Que é preciso fazer?perguntou o principezinho.
__É preciso ser paciente,respondeu a raposa.Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim,assim,na relva.Eu te olharei
para o canto do olho e tu não dirás nada.A linguagem é uma fonte de mal-entendidos.Mas,cada dia,te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
__Teria sido melhor voltares à mesma hora,disse a raposa.Se tu vens,por exemplo,às quatro da tarde,desde às três eu começarei a ser feliz.Quanto mais a hora for chegando,mais eu me sentirei feliz.Às quatro horas então,estarei inquieta
e agitada:descobrirei o preço da felicidade!"


segunda-feira, 9 de março de 2009

Um anjo passou por aqui...

Todos os dias passamos por várias pessoas e, nesse corre corre, muitas vezes deixamos escapar aquele momento, que tem o poder de fazer com que paremos um pouco e repensemos a vida. Se nós fóssemos mais sinceros com nós mesmos e com a vida em si, perceberíamos o quanto somos pequenos e efêmeros diante da plenitude da vida. Quando nós atentarmos para o valor da vida, na sua singularidade, encontraremos verdadeiros tesouros em detalhes tão simples e singelos, como quem se garimpa uma jóia de raro valor.
As pessoas são como essas jóias raras. Nós só temos que focar a nossa visão para os pequenos detalhes, que talvez nos passam despercebidos, ou na realidade, não queremos mesmo percebê-los? Então... num belo dia nós acordamos e nos maravilhamos, quando lembramos de detalhes que estavam lá,presentes, fazendo a diferença. Mas, por que foi mesmo que nós não os percebemos? Será que muitas vezes não esquecemos das pequenas coisas... pequenos gestos...
Confesso que esses pensamentos têm tomado forma em mim, desde que conheci o Gabriel, nome de anjo, lembram? Um garoto que teve uma passagem tão rápida por aqui, viveu somente cinco anos. Tive o prazer em conhecê-lo, por causa das suas vindas à cidade para sessões de fisioterapia. Lembro do cuidado, carinho e paciência que seus pais tinham para com ele. Um afago, um sorriso para que ele soubesse que eles estavam lá, perto dele. Que ele era querido e amado.
E uma das coisas que me marcou, aliás que esse anjo de menino deixou marcada em minha vida, foi o seu sorriso. E, eu aprendi com essa criança que mesmo diante das nossas fragilidades, podemos esboçar sorrisos que se perpetuam na eternidade.
Uma coisa eu tenho certeza, de que valeu a sua pouca temporada em nosso meio. Foi como uma chuva de verão, rápida, mas que dá seus frutos. Com certeza seus pais saíram mais fortes, mesmo diante da dor da perda.... e, quanto a mim, fui encorajada a continuar vivendo a vida de forma mais simples, buscando ser mais sensível às pequenas coisas... aos pequenos gestos....Realmente, um anjo passou por aqui... e o seu nome? É Gabriel.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Fazedores da História

Porque é tão difícil para as pessoas assimilarem, que todos nós somos responsáveis por cada pedaço da história, que é formado, criado momento a momento? A história é viva! Logo, ela acontece por atos pensados e praticados no mundo dos vivos!
Entendo que se a humanidade olhar pra dentro de si, irá perceber quanta coisa boa pode ser exteriorizada e que, com essa nova forma de pensar, fará com que a sua trajetória de vida, seja um caminho mais agradável, leve, sem tantos atropelos.
Só assim, brotará em todos nós a compaixão que é a essência dAquele que nos criou, e então seremos capazes de amar como Ele amou!
A vida não terá mais o sabor amargo do orgulho, da ganância, do individualismo, do ódio e tantos outros, que massacram a própria humanidade. Pois a verdadeira Vida fará nascer o sabor da alegria, paz, compreensão, perdão, honestidade, fidelidade, respeito.... E nós seremos mais justos e amáveis conosco e com o nosso semelhante.
Então numa atitude de responsabilidade diante da vida, e para com a vida, estaremos dispostos a escrever uma nova história. Regada por ações nobres que nos conduzirão por caminhos planos e permeáveis para o verdadeiro propósito dAquele que nos criou. Que é o amor, vínculo da perfeição.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A Beleza da Vida

Como a vida é graciosa! A cada momento, ela nos presenteia.
Sim, a cada momento somos surpreendidos pela beleza que nos rodeia...
E, não precisamos ir longe para encher os nossos olhos de tanta alegria, vida e beleza...
Alguém já falou uma vez que, "Nos pequenos frascos, estão as melhores fragâncias"
E, é assim mesmo que acontece com a beleza da vida. É só olharmos ao nosso redor.
Nas coisas simples da vida são os lugares onde acontece o belo:
Já observou que um pôr-do-sol nunca é igual ao outro?
A cachoeira estendendo suas águas como um véu, e o som que elas produzem...
E as flores do campo? Em todas as suas diversidades, lindas e encantadoras; como se fossem
planejadas, desenhadas uma a uma.... é como se existessem para alegrarem
os mais diferentes corações....
Sim, acredito que é na simplicidade da Vida, mesmo com toda a sua complexidade; que encontramos e celebramos a sua beleza!

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Jesus, O Equilíbrio

Refletindo um pouco sobre a nossa fragilidade...

"Conhecer a Deus sem conhecermos nossa própria fraqueza induz ao orgulho. Conhecermos nossa fraqueza sem conhecer a Deus leva ao desespero. Conhecer a Jesus Cristo estabelece o equilíbrio, porque Ele nos mostra Deus
e a nossa fraqueza."
( Blaise Pascal )