quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Janelas...

Nada mais íntimo, nada mais confidencial do que uma janela aberta. E ela, bem sabia disso. 

Por isso, quando ouviu um chamado na sua janela, ela foi discreta. De relance ela olhou pela fresta: "Seria esse o tão esperado momento da sua vida?"

Qual a sua surpresa ao vê que do outro lado da rua, em uma janela aberta um moço sorridente e gentil a esperava. Acenou para ela. Ela retribuiu com um sorriso.

E aos poucos ela foi abrindo a janela...

Havia uma mágica no ar a cada momento em que as janelas se abriam. A imaginação corria solta. E ela se deixou envolver por esses doces momentos que pareciam tão reais, de tão desejados que eram pelos dois.

Havia um ritual que os unia. Quase sempre ele chegava à janela primeiro. Enquanto isso, ela se embelezava, se perfumava... quem sabe o aroma não envolveria o seu amado? rsrs

Era impossível  eles conterem o sorriso que fluia levemente a cada encontro. Como eles se faziam bem...

E aí, eles conversavam, sonhavam, cantavam versos de amor, de saudades...

Tudo parecia correr bem. Até o momento em que ela mostrou a sua humanidade imperfeita. Quando uma palavra impensada pôs em risco tudo o que eles haviam construído, até então. 

Ela não entendia a razão que o fez ficar tão arredio e indiferente. Isso, porque antes eles já haviam passado por algumas correntezas e decidiram navegar juntos... continuar.

Ela sempre fora fiel ao seu amor, falava o que estava na alma. pediu-lhe perdão. Entretanto, ele parecia longe, distante à tudo o que eles viveram. Simplesmente, mostrou sua indiferença e desapego ao que antes, ele dizia ser tão sublime. 

Mesmo assim, as janelas insistiam em se abrir mesmo que de uma forma contida. 

Só que aquela indiferença roubou o interesse. Os desejos, os sonhos já não tinham mais o mesmo vigor, o mesmo brilho.

Como os sorrisos ficaram escassos na outra janela, e o descuido dele em não manter a janela aberta, ela sentiu o seu sorriso fugindo.

Não havia sentido continuar...


E com pesar na alma, o coração apertado, aos poucos ela decidiu tomar uma decisão: Fechar a janela.

Decisão justa, pois isto parecia ser a melhor atitude a ser tomada.

Ela trancou a sua janela. E então, a sua alma sensível se envolveu no aconchego e no silêncio das suas lembranças...

(...)


(Por algum motivo foi rabiscado no dia 20 de novembro de 2012)

Leny Brito



sábado, 17 de novembro de 2012

A Colina

Fim de tarde, ela veste o seu melhor vestido, calça os sapatos e põe aquele casaco surrado.  

Está decidida a subir a colina.

Não é do seu feitio ficar enclausurada entre as quatro paredes de um quarto,
enquanto lá fora a vida continua a sua mais linda encenação. 

Então começa a sua caminhada, passos largos, ligeiros
Coração bate compassadamente,

Ao longo da subida ela percebe seu rosto gelando
A respiração começa a ficar ofegante... os passos começam a pesar
Ela até pensa em voltar...

"Que motivos poderiam existir para que valesse a pena toda aquela subida?" Ela sussurra à sua alma. 

De repente, ela sente um ardor no coração. E dele brota uma ardente esperança.

E no embalo da canção entoada pelo rouxinol, a sua alma ganha fôlego

Sua respiração fica leve ao se envolver com a beleza ao seu redor.
Seus olhos se encantam com as flores que vão surgindo na trilha
E o cheiro do mato molhado começa a encher-lhe os  pulmões.

Tudo à sua volta é tão contagiante...  tão envolvente... 
que ela nem percebe que a subida chegara ao fim.

E lá de cima ela tem a mais bela visão que a vida poderia lhe dar, 
E num gesto de contrição ela se senta na grama verde,

Agora, ela não precisa mais da proteção do casaco, e o coloca ao lado.

"A vida, o tempo, poderiam parar naquele momento", pensa consigo

E, sorrateiramente, ela sente o vento deslizar sobre a sua pele...

Diante de tão grande encanto, seu olhar sorriu silenciosamente

(...)

Leny Brito

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Carta por acaso encontrada entre os muitos rascunhos e desenhos deixados pelo Poeta do Fragmento numa gaveta de sua escrivaninha e que ele nunca chegou a enviar ao seu destino


A poeira pousada sobre a foto de nós dois naquele tempo, no antigo tempo. Ainda somos nós nesta foto? Tenho o bom pressentimento que sim. Seu ar de formas tranquilas, seu jeito de olhar que me envolvia em ternuras, carinhos e requintes, ainda que sem toques nem beijos – uma das virtudes das crianças é gostar sem precisar abraçar nem beijar. Porém agora, enquanto, na foto, é uma menina que ensaia, silenciosa uma flor, mas que não sabe que flor. Flores colhidas murcham junto ao peito, flores ensaiadas não. És uma flor sempre ensaiada. 

O desejo que tenho agora é saber se sente saudades. Eu, como não! Quando desta foto não sabíamos de muito, quase nada de tudo, tínhamos intuições pueris sobre as coisas. Qualquer uma coisa que desse errado nos parecia ser de reversível manuseio, uma, duas, tantas vezes quanto precisasse até sermos felizes. O Tempo não era sempre o Tempo. Entre a fumaça da palha e a neblina de uma qualquer tarde de junho tínhamos os vagos campos para percorrer com os olhos. Tínhamos o pasmo essencial para a eterna novidade do mundo de que escreveu o poeta.
Entorpeço agora em atmosfera pronta para que nada se diga e tudo se anuncie, na memória, no íntimo, na saudade, como vejo em hoje, em íntima lembrança, e vejo e ouço entre os volteios do violino do primoroso polonês Chopin, que tanto significa para mim.

É difícil de encontrar resposta para saber da saudade tua; se sentes. Sei da minha, e nesse caso é cruel a maioridade da consciência do tempo e da saudade, e sem encanto algum agora, talvez alhures. O mais que tenho é um remorso mal qualificado como nostalgia. Sorriso fraco em presença daquilo que sequer consigo ver nitidamente; as imagens que guardo daquele tempo, que esvaece cada vez mais e demais quando tento interpretar a foto que de nós dois tenho à mão.

Da paisagem pura que compunha a paisagem ao fundo, especificamente esta do final de junho com fumaça e neblina, vai se apagando primeiro o que é mais vulnerável, as casas pareando-se no caminho, depois o caminho, depois as formações dos eucaliptos, depois a composição dos ares, enquanto vão resistindo outras; o “corguinho” enganosamente límpido e cristalino, a várzea que expandia o horizonte tornando-o comprido ao infinito, a poeira do chão poroso da estrada, os lilases e os lírios intrusos nos pastos.

A tarde de agora enquanto lembra em muito a da foto, possui diferenças básicas; agora é maio, estou piorado e velho, me esforço por lembrar, me perco em dúvidas sem saber do que sentir e se devo sentir à medida do que talvez você sinta. Tem ainda outras duas diferenças, uma, um tímido róseo crepúsculo entre um horizonte irregular de prédios, a outra, o asfalto que oculta e dissolve os planos da memória.

Entre a fumaça da palha e a neblina de uma qualquer tarde de junho, na foto que de nós dois tenho à mão vem-me uma saudade completa, pronta, e sua ausência está comigo.

Seu Poeta do Fragmento
Fonte: herdeirosdodeserto.blogspot.com.br do meu amigo, Alex Carrari

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Desapegos

Há pessoas que adoram fazer uma faxina, outras nem tanto. Eu estou no segundo grupo. Talvez, pelo esforço físico, porque faxina exige muito disso. Ou quem sabe pelo fato de não querer me "desapegar" de alguns objetos que vão se amontoando ao longo do tempo.
 

É impossível uma faxina ser faxina se ela não nos condicionar a tirarmos alguma coisa. Mesmo que seja pra trocar de lugar, ou na pior das hipóteses excluir de vez algo que não tem mais a sua "utilidade".
 

É interessante como  nós nos "apegamos" a objetos, os mais diversos possíveis! Ah,  não venha me dizer que você não tem esse "apego". Bem, pra tirar essa dúvida, dá uma olhada nos seus armários do quarto , na escrivaninha. Isso sem falar nos outros objetos da casa. E, como eu imagino, você vai ver que existe pelo menos um objeto que você deixou lá no canto, por um simples "capricho" seu! É esse "capricho" que  alimenta o nosso apego pelas coisas.
 

Então é isso, quando me aventuro na tarefa de "faxinar" meu quarto, o resultado é o mesmo. No mínimo duas sacolas cheias de quinquilharias. Infelizmente, objetos que no seu tempo tiveram seu valor, sua utilidade, sua beleza. Mas com o tempo se desgastaram. E agora precisam de um outro "rumo", de um outro endereço para que voltem a ter "sentido". Ou para que possam perpertuar a sua "existência", quem sabe?
 

Porém, eu percebo que esta tarefa não é nada fácil! No meu caso, leva horas de arrumação. Olho para o objeto que está pronto pra ser descartado, e num ato de "desapego" ele é colocado de lado. Ele não retorna para o lugar que estava antes. Retiro a poeira do lugar, deixo o espaço vazio. Com certeza, um outro objeto vai ser posto ali, mais cedo ou mais tarde.
 

Eu confesso que  esse ato de des-apego daquilo que adquiri  ou ganhei nunca acontece na primeira faxina. Pra que isso ocorra são necessárias várias faxinas, sempre alguma coisa vai ficando. Por mais que eu descarte alguma coisa, sempre fica algo, que na próxima faxina terei que abrir mão. Esse é o motivo das sacolas estarem sempre cheias.
 

Depois de falar de tanta faxina e desapego de coisas, objetos, lembro que a nossa vida é como esse "quarto" que precisa ser  "arrumado", "limpo" de vez em quando.
 

E, igualmente à nossa faxina do quarto, sempre irá existir algo de que não nos desapegaremos de imediato. E essa atitude de apego àquilo que pode ser mudado faz com que a nossa vida fique estagnada, sem perspectiva, em relação às várias possibilidades, novos desafios que surgem no horizonte.
 

A vida nos mostra os caminhos. E, aos poucos, nos aventuramos nos dolorosos caminhos dos desapegos.  
Leny Brito

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Ruídos No Silêncio

Vivemos em mundo agitado, barulhento. Essa é a dinâmica da vida, sempre em movimento e movimento traz  agitação. E, consequentemente todos os barulhos. Parece que há uma briga constante entre eles, para saber qual irá se sobressair além dos demais, a tão conhecida poluição sonora. Não há trégua. 

E quando nós menos esperamos, a nossa alma pede sossego, tranquilidade. Ela busca o silêncio. 

Mas, o que é mesmo o silêncio? De acordo com o dicionário, em uma de suas definições em relação ao silêncio, diz que ele é a "ausência completa de ruídos". Por ruídos, entenda-se "barulhos".

Em minhas intuições tenho "visto" (penso que "ouvido" é o melhor termo) que o silêncio é o lugar onde nós podemos perceber os nossos barulhos. Puxa, e como esse silêncio pode ser barulhento! É daí a razão dele ser "ouvido". Pois se há barulho, há som. Mesmo que esse som seja imperceptível.

Então, partindo por esse ponto de vista (que é meu), entendo o silêncio como um infinito de "barulhos". Dependendo do quê nos leva a silenciar, o nosso silêncio será "ouvido" das mais variadas formas.

Você já escutou a voz do vento? No silêncio ele pode ser ouvido e dependendo da sua força, nós ficaremos a mercer dos mais terríveis "barulhos"! 

E aproveitando a metáfora do "vento" eu acredito que em nossa mente há uma infinidade de silêncios que fazem muito mais barulhos do que muitos dos sons que ouvimos por aí. São esses silêncios que muitas vezes roubam a tranquilidade. 

Esses silêncios têm uma capacidade de vedar os nossos olhos, de tapar os nossos ouvidos e bocas e de atar as nossas mãos e pés. Pressinto que, isso, se dá quando a velocidade dos nossos pensamentos não consegue ser alcançada pelas nossas palavras. 

E essa dissonância ou falta de harmonia entre o pensar e o falar, muitas vezes, causa muitos barulhos e barulhos demais trazem as incompreensões.

Enquanto escrevo estas linhas, penso que o silêncio, silêncio mesmo, só acontece nos momentos em que calamos as palavras. Pois o que era pra ser falado, traz em si a ausência das palavras... Silêncio.

E por falar em silêncio, todos já dormem. E tenho comigo alguns poucos barulhos. Agora é a minha hora de silenciar.

(Alguns rabiscos na madrugada do dia 06 de nov/2012)

Leny Brito

sábado, 3 de novembro de 2012

Inspiração na Noite

Era uma noite sem luar, e ela diminuiu o rítmo dos seus passos
Como caminhar faceira, se a lua se escondera em seu tempo?

Oh, lua! São das tuas chuvas prateadas que todos os amantes anseiam beber
No entanto, você se esquivou e não apareceu no céu
E assim os mais belos poemas de amor não foram inspirados...

E ela, ela continuou seu caminho... sem pressa de chegar...
Quem sabe no meio da  noite, ou antes que o sol nascesse 
Algum poema brotasse em sua alma. 



(Rabiscos feitos na madrugada do 4º dia de novembro de 2012)

Leny Brito




quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Lembranças

A moça procurou se afastar o máximo daquele lugar, lugar que antes lhe era tão familiar. Agora era um lugar que não tinha tanta beleza. Não havia mais o mesmo encanto. Se tornara um lugar des-encantado.

Sim, ela vivera grandes sonhos ali, que encheram os seus olhos de vida, de alegria.

E como era contagiante a alegria quando as "janelas" se abriam. Os sorrisos vinham soltos, sem pretenção alguma. Simplesmente queriam estar lá para compartllhar sonhos e vida. 

E como era bom estar ali, fazia muito bem aos corações enamorados...
"Por que seus sonhos lhes foram roubados?" Perguntava a si mesma, quando colocava sua cabeça no travesseiro.

Então, as lembranças brotavam, borbulhavam do seu coração. Sim, ela amava aquele moço de mãos hábeis que quando rabisca sobre o papel, as palavras ganham vida. E ela não compreendia, como sendo ele um criador de emoções, não conseguiu ler nas entrelinhas o que não se pode ser expresso em palavras, àquilo que é sublime!

(...)

E envolta nas suas lembranças, na escuridão da noite, ela se "pega" sorrindo, um sorriso feliz. Esse sorriso traz esperança...

E nessa esperança, a sua alma deseja sonhar com um novo amanhã. 


(Rabiscos feitos no 1º dia de novembro de 2012, às 22:35hs)

Leny Brito